terça-feira, fevereiro 28, 2012

Continuidades ....

Mário Almeida está há muitos anos em funções em Vila do Conde? Jaime Soares, também, em Vila Nova de Poiares? Seguramente que sim. Falo desses dois casos de autarcas por quem tenho apreço pessoal e que têm um enorme trabalho nas suas terras, porque são sempre os mais referidos, juntamente com alguns autarcas da CDU em Câmaras ribatejanas ou alentejanas.

Todos esses autarcas vão ter de sair. Alguns admitem candidatar-se a autarquias vizinhas, o que tem sido objecto de alguma controvérsia jurídica. Mas, independentemente da questão legal, pergunto: no plano ético, o que seria preferível – candidatarem-se ao mesmo concelho ou mudarem para outro quando já não podem candidatar-se ao mesmo? Se essas mudanças de território acontecerem é, certamente, porque têm obra feita nos municípios onde estejam a cessar funções.

Como se sabe, já vários presidentes de Câmara deixaram neste mandato as suas funções por não estarem para suportar esse penoso final de exercício do cargo. Carlos Encarnação, António Capucho, Manuel Frexes, Mata Cáceres, José Silvano, entre outros, optaram por sair a meio. Independentemente de outras razões pessoais – e de alguns terem assumido outras funções públicas – nenhum escondeu algum desconforto com esta norma da limitação de mandatos.

No Sol por Santana Lopes

domingo, fevereiro 26, 2012

UM DIA ISTO TINHA QUE ACONTECER

( Por Mia Couto)



"Existe mais do que uma! Certamente!
Está à rasca a geração dos pais que educaram os seus meninos numa abastança caprichosa, protegendo-os de dificuldades e escondendo-lhes as agruras da vida.
Está à rasca a geração dos filhos que nunca foram ensinados a lidar com frustrações.
A ironia de tudo isto é que os jovens que agora se dizem (e também estão) à rasca são os que mais tiveram tudo. Nunca nenhuma geração foi, como esta, tão privilegiada na sua infância e na sua adolescência. E nunca a sociedade exigiu tão pouco aos seus jovens como lhes tem sido exigido nos últimos anos.
Deslumbradas com a melhoria significativa das condições de vida, a minha geração e as seguintes (actualmente entre os 30 e os 50 anos) vingaram-se das dificuldades em que foram criadas, no antes ou no pós 1974, e quiseram dar aos seus filhos o melhor.
Ansiosos por sublimar as suas próprias frustrações, os pais investiram nos seus descendentes: proporcionaram-lhes os estudos que fazem deles a geração mais qualificada de sempre (já lá vamos...), mas também lhes deram uma vida desafogada, mimos e mordomias, entradas nos locais de diversão, cartas de condução e 1.º automóvel, depósitos de combustível cheios, dinheiro no bolso para que nada lhes faltasse. Mesmo quando as expectativas de primeiro emprego saíram goradas, a família continuou presente, a garantir aos filhos cama, mesa e roupa lavada.
Durante anos, acreditaram estes pais e estas mães estar a fazer o melhor; o dinheiro ia chegando para comprar (quase) tudo, quantas vezes em substituição de princípios e de uma educação para a qual não havia tempo, já que ele era todo para o trabalho, garante do ordenado com que se compra (quase) tudo. E éramos (quase) todos felizes.
Depois, veio a crise, o aumento do custo de vida, o desemprego, ... A vaquinha emagreceu, feneceu, secou.
Foi então que os pais ficaram à rasca.
Os pais à rasca não vão a um concerto, mas os seus rebentos enchem Pavilhões Atlânticos e festivais de música e bares e discotecas onde não se entra à borla nem se consome fiado.
Os pais à rasca deixaram de ir ao restaurante, para poderem continuar a pagar restaurante aos filhos, num país onde uma festa de aniversário de adolescente que se preza é no restaurante e vedada a pais.
São pais que contam os cêntimos para pagar à rasca as contas da água e da luz e do resto, e que abdicam dos seus pequenos prazeres para que os filhos não prescindam da internet de banda larga a alta velocidade, nem dos qualquer coisa phones ou pads, sempre de última geração.
São estes pais mesmo à rasca, que já não aguentam, que começam a ter de dizer "não". É um "não" que nunca ensinaram os filhos a ouvir, e que por isso eles não suportam, nem compreendem, porque eles têm direitos, porque eles têm necessidades, porque eles têm expectativas, porque lhes disseram que eles são muito bons e eles querem, e querem, querem o que já ninguém lhes pode dar!
A sociedade colhe assim hoje os frutos do que semeou durante pelo menos duas décadas.
Eis agora uma geração de pais impotentes e frustrados.
Eis agora uma geração jovem altamente qualificada, que andou muito por escolas e universidades mas que estudou pouco e que aprendeu e sabe na proporção do que estudou. Uma geração que colecciona diplomas com que o país lhes alimenta o ego insuflado, mas que são uma ilusão, pois correspondem a pouco conhecimento teórico e a duvidosa capacidade operacional.
Eis uma geração que vai a toda a parte, mas que não sabe estar em sítio nenhum. Uma geração que tem acesso a informação sem que isso signifique que é informada; uma geração dotada de trôpegas competências de leitura e interpretação da realidade em que se insere.
Eis uma geração habituada a comunicar por abreviaturas e frustrada por não poder abreviar do mesmo modo o caminho para o sucesso. Uma geração que deseja saltar as etapas da ascensão social à mesma velocidade que queimou etapas de crescimento. Uma geração que distingue mal a diferença entre emprego e trabalho, ambicionando mais aquele do que este, num tempo em que nem um nem outro abundam.
Eis uma geração que, de repente, se apercebeu que não manda no mundo como mandou nos pais e que agora quer ditar regras à sociedade como as foi ditando à escola, alarvemente e sem maneiras.
Eis uma geração tão habituada ao muito e ao supérfluo que o pouco não lhe chega e o acessório se lhe tornou indispensável.
Eis uma geração consumista, insaciável e completamente desorientada.
Eis uma geração preparadinha para ser arrastada, para servir de montada a quem é exímio na arte de cavalgar demagogicamente sobre o desespero alheio.
Há talento e cultura e capacidade e competência e solidariedade e inteligência nesta geração?
Claro que há. Conheço uns bons e valentes punhados de exemplos!
Os jovens que detêm estas capacidades-características não encaixam no retrato colectivo, pouco se identificam com os seus contemporâneos, e nem são esses que se queixam assim (embora estejam à rasca, como todos nós).
Chego a ter a impressão de que, se alguns jovens mais inflamados pudessem, atirariam ao tapete os seus contemporâneos que trabalham bem, os que são empreendedores, os que conseguem bons resultados académicos, porque, que inveja! que chatice!, são betinhos, cromos que só estorvam os outros (como se viu no último Prós e Contras) e, oh, injustiça!, já estão a ser capazes de abarbatar bons ordenados e a subir na vida.
E nós, os mais velhos, estaremos em vias de ser caçados à entrada dos nossos locais de trabalho, para deixarmos livres os invejados lugares a que alguns acham ter direito e que pelos vistos - e a acreditar no que ultimamente ouvimos de algumas almas - ocupamos injusta, imerecida e indevidamente?!!!
Novos e velhos, todos estamos à rasca.
Apesar do tom desta minha prosa, o que eu tenho mesmo é pena destes jovens.
Tudo o que atrás escrevi serve apenas para demonstrar a minha firme convicção de que a culpa não é deles.
Haverá mais triste prova do nosso falhanço?"




sexta-feira, fevereiro 03, 2012

Jaime Soares: "Limitação de mandatos é antidemocrática"

Jaime Soares , acha que ainda não está velho e que a Alzhaimer não é uma doença . Por isso queria continuar, ate morrer, a ir mandar e berrar com os funcionarios da Câmara e a ter lugares que lhe iam dando por inerencia.
Assim,continua a dizer: "Limitação de mandatos é antidemocrática".
Democraticamente alguem achou que a idade de reforma é um bem inestimavel para todos e para a sociedade em geral.
Por isso chega a ser um dos autarcas portuguêses mais antigo, assim do genero dos paises do 3º mundo, que critica a limitação de mandatos para os presidentes de Câmara. Ainda queria continuar, convencido que não tem limitações nem perturbações.

Jaime Soares, ainda dos mais antigos autarcas portuguêses, acha que pela idade já não tem problemas nem vergonha em criticar a reforma autárquica que está em estudo e ainda insiste : "Considero a lei aberrante e antidemocrática".
Quem o conhece e lida com ele, ri-se qundo fala de democracia e de anti-democratas. O que vale é que a palavra democracia, dá para tudo.
Para o presidente da Câmara de Poiares, eleito nas listas do PSD, não entende que se "estava a retirar aos cidadãos o direito de escolher quem deveria administrar bem as autarquias". O autarca concretiza: "A democracia trouxe-nos a liberdade de tomar as nossas opções, á nossa maneira pelo qual ainda pretendia ficar.
Jaime Soares sustenta que a limitação até três mandatos para os autarcas só faria sentido ...blablabla." A lei devia colocar todos no mesmo patamar como o s presidentes de republica, que às duas é de vez.
A possibilidade de um autarca, no fim dos três mandatos, se candidatar a outra Câmara, leva o presidente de Vila Nova de Poiares a perguntar: "Ao fim de três mandatos as pessoas perdem as qualidades ou mudam? Se não serve para uma Câmara, não serve para outra".
Ate tem razão, que ao fim de 3 mandatos não serve para nenhuma, que é o que se pretende na lei.
Jaime Soares nem se apercebeu que ao fim de quase 40 anos de liderança que manteve, "que o poder central está cada vez mais poderoso" e que com o autarca, falhou redondamente como muitos mais autarcas com muitos mandatos, dando cabo do poder local . Por isso " esta já não é a revolução do poder local".