Sentado por detrás do palanque, no Centro Escolar da Arrifana, o pároco, que fora chamado a abençoar o edifício, por duas vezes se sobressaltou.
Primeiro foi Jaime Soares, o presidente da Câmara de Poiares, que, num aparte ao discurso, deu meia volta e, de costas para a plateia, o incumbiu de pedir a Deus que evite que "o povo passe, agora, por males tão grandes como os que sofreu antes da implantação da República". Ainda o padre não tinha recuperado do espanto e já o secretário de Estado da Administração Local, José Junqueiro, se lhe dirigia também, esse a pedir ajuda divina para as autarquias, que vivem "momentos de aperto".
Sem provocarem reacções visíveis na sonolenta plateia, os pedidos foram feitos com graça e não caíram em saco roto. A esticar as pernas, entorpecidas por tão longa cerimónia, o pároco Mendes Antunes aproveitou a confusão da debandada para admitir que não esperava sair dali com tão pesados encargos. Só lamentou, com um sorriso, que não lhe tivessem dado a palavra. "Se dessem, ter-lhes-ia dito: "Confiem na Virgem e não corram e vão ver o pontapé que levam!""
Um padre bem-humorado, um tipo que desde Abril de 1976 anda aos trambolhões com os destinos da Câmara e um secretário de Estado com agilidade suficiente e pachorra para o aturar e para responder à letra a um anfitrião que classificou como "difícil" e lateiro - foram estes os ingredientes que tornaram particular um tipo de cerimónia que se repetiu por todo o país, onde os cem anos de República foram comemorados com a inauguração de cem centros escolares.
Assim foi dada a oportunidade a Jaime Soares, de dizer o que aprendeu na 4ª classe sobre a implantação da Republica e o que o foi aprendendo com a maçonaria - "hoje, como em 1910, também o povo vive os momentos dramáticos que sempre antecedem as grandes mudanças". José Junqueiro, retorquiu que "em momentos difíceis é ainda maior a responsabilidade das oposições".
Como pobre diabo la teve que sair assim para vergonha de todos os poiarenses. "Olhe, tenha paciência, mas já sabia como eu sou. Se não me quisesse ouvir, tinha mandado outro colega", desculpou-se, no fim, Jaime Soares.
Só lhe faltou pedir desculpa ao povo poiarense pela arruaça que teve, Receber assim envergonha qualquer poiarense. Falta de nivel e de categoria para não falar em falta de cultura e de labreguismo primario..
Já no pavilhão onde se seguiu o lanche, um dos muitos poiarenses envergonhados e que participaram na festa, havia de lhe "elogiar o feitio":
"É um pobre diabo a quem desculpamos . Talvez seja um homem bom. Não perde uma oportunidade de pedir por nós e pelo concelho, insultando quem quer que seja, mas será por pouco tempo Graças a Deus."
De historia percebe ele pelos vistos.
Um comentário:
Mas afinal é ou não um pobre diabo?
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