segunda-feira, maio 14, 2012

Bombeiros em Charlie precoce?

Alfa, Bravo e Charlie. As três graduações de risco das fases de combate a fogos florestais implicam dispositivos diferentes. Todas elas, no entanto, não obtêm efeitos recorrendo só a meios específicos de departamentos de Estado - da PSP à GNR, da Autoridade Florestal ao Instituto de Conservação da Natureza, da Força Especial de Bombeiros ao Grupo de Intervenção. A gestão de danos, patrimoniais ou humanos, passa - e muito - pelas cerca de 400 associações de bombeiros voluntários existentes em Portugal.
Não haja dúvidas: se há área de que os portugueses se orgulham é a do voluntariado, sob as mais diversas formas, e na qual os bombeiros ocupam posição cimeira. Estão na linha da frente dos incêndios ou das inundações, como são âncora indispensável no transporte ou no acompanhamento de doentes.
Os 30 mil bombeiros voluntários existentes no país dispõem apenas de virtudes?
Em todas as corporações há comportamentos desviantes - e os bombeiros não são exceção. Sabedores do seu papel crucial na sociedade funcionam, aqui e ali, como grupo de pressão; num posicionamento facilitado também pelo modo como o Estado se coloca a jeito, ao não dispor de meios alternativos de apoio às populações ou, então, juntando proveito à fama de mau pagador. Quando uma corporação de bombeiros vive na penúria, não dispõe sequer de dinheiro para combustíveis, por não receber a tempo e horas serviços contratualizados com o Estado, fica-lhe simplificada a postura reivindicativa.
Em nome da boa organização não é aceitável que o Governo fuja dos focos de incêndio com os bombeiros - leia-se capacidade negocial e clarificação de regras. Deve, porém, atender às prioridades e dispor de autoridade moral, sob pena de se tornar em pirómano.
Ha dias, à boleia do anúncio de meios para o combate a fogos florestais na fase "Bravo" - de 15 de maio a 30 de junho -, ficou a saber-se estar o Governo a trabalhar num novo modelo de financiamento dos bombeiros voluntários. À Agência Lusa o secretário de Estado da Administração Interna revelou a convicção de que um processo de reestruturação "é incontornável e tem de começar pelos próprios interessados".
Filipe Lobo d'Ávila defendeu a dama da reorganização considerando dispor o país de "um mapa territorial que, do ponto de vista dos corpos de bombeiros, não corresponde ao mapa de riscos em Portugal e, na maior parte dos casos, encontra-se desajustado da realidade e da necessidade de resposta que é preciso dar". Ou seja: sinergias de meios materiais e humanos, no mesmo concelho ou com concelhos vizinhos, evitarão - diminuirão? - investimentos.
Consequência óbvia do anúncio: as corporações de bombeiros estão já com a pulga atrás da orelha.
Não escapando os bombeiros ao conceito global de corte em corte até à penúria total do país, das duas uma: ou a racionalização de meios se faz na base do bom senso ou as labaredas da discórdia vão surgir antes do período-pico dos fogos florestais. O Charlie só começa a 1 de julho e até lá......

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