O IP3 é uma estrada criminosa, porquanto não oferece garantias de segurança a quem ali circula. O Observatório de Segurança de Estradas e Cidades concluiu agora um estudo que prova isso mesmo. A organização não governamental quer tirar daí todas as ilações e responsabilizar quem de direito. Por isso, esta semana vai avançar com uma participação criminal junto da Procuradoria Geral da República
Por norma entende-se que, num qualquer acidente, a culpa é do(s) condutor(es). Distracções ou outro tipo de situações anómalas, mas sempre directamente ligados a quem vai sentado ao volante, são os culpados dos acidentes que se verificam nas estradas. Por princípio esquece-se um facto que o Observatório de Segurança de Estradas e Cidades considera fundamental, ou seja, aquilo que são as estradas em si mesmas. Isto porque a construção/sinalização das vias é, em muitos casos, um factor preponderante na ocorrência de acidentes de viação.
Quando a estrada provoca acidentes, não significa só que os condutores tenham culpa, mas também tem a ver com os defeitos da estrada. E é precisamente isso que, se verifica com o IP3.Tendo em conta a incidência de sinistralidade verificada neste itinerário, sobretudo entre Coimbra e Penacova.
O IP3 representa um acumulado de erros técnicos, que limitam a margem de segurança e transformam a circulação naquela via numa verdadeira aventura. Ou seja, bons condutores e carros topo de gama são os que correm menos riscos. Tudo o resto representa um desafio, pois a estrada tem um traçado muito perigoso.
A probabilidade de haver acidentes, nomeadamente despistes, é muito grande naquela zona.
Nas curvas, com raios muito apertados e distância de visibilidade de paragem muito reduzida, a situação agrava-se e o condutor sente-se enganado. Por isso, ou se é muito bom condutor e consegue controlar a viatura, ou tem um veículo de gama alta, o que facilita o controlo do carro, ou a possibilidade de ocorrer um acidente é bastante grande. Com condições atmosféricas mais adversas, nomeadamente piso molhado, a situação agrava-se significativamente e a margem de segurança reduz-se em conformidade.
Um IP para uma velocidade de 60/70 km/hora é muito mais barato que um IP para velocidades de 100km/hora. Para além das diversas curvas, também a afamada descida do Botão mereceu uma particular atenção dos engenheiros responsáveis pelo estudo. Localizamo-nos no quilómetro 51,30, no sentido Viseu ? Coimbra, e encontramo-nos perante outro dos pontos negros. As pessoas já não morrem aqui, mas continua a haver choques e feridos.
Os separadores de betão acabaram por salvar vidas. Em causa está uma descida com 1.900 metros e uma inclinação de 8% que, de acordo com as normas técnicas, afirmam os responsáveis, nunca poderia ter uma extensão superior a 300 metros. Ficamos com 1.600 metros em excesso, o que motiva grandes velocidades. Com duas vias era uma matança.
Com a superação da segunda via, as velocidades são menores, mas os despistes continuam, embora com menor gravidade.
Ainda sobre as curvas do traçado do IP3 entre Coimbra e Penacova, quase todas estão sinalizadas para uma velocidade de 100 km/hora, o que exigiria que a construção respeitasse um raio superior a 700 metros, o que não acontece, bem pelo contrário, a média cifrar-se-á num raio de 300 metros.
Se as curvas respeitassem este raio nunca aqui teria morrido ninguém, a não ser por culpa dos condutores. Não havia um passado triste do IP3 se tivesse sido bem construído.
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