terça-feira, agosto 19, 2003

OS FOGOS.....JÁ COM ALGUMA ACALMIA.......



NO TEMPO EM QUE NÃO HAVIA FOGOS

MUITA ASNEIRA SE TEM DITO e muitas opiniões se têm tentado passar....

Sou do tempo em que poucos fogos florestais havia ou eram publicitados.

Havia aldeias povoadas com famílias inteiras desde avós a netos.
Havia a GNR a calcorrear as povoações periódicamente havia os guarda rios.
As crianças começavam a aprender a trabalhar o campo e tomarem a sensibilidade dos elementos da natureza.
Havia rebanhos enormes a pastar nos montes.
Roçavam-se os matos para fazer a cama aos animais caseiros; os porcos ,as cabras , os coelhos , as galinhas....havia estrume criado nos currais.





Uma calamidade que se repete todos os anos.
Infalível como o destino.
E que, tambem todos os anos se repetem e provoca as reações do costume sempre com as mesmas pessoas: o povo das aldeias, as INSTITUIÇÕES E O PODER POLITICO...e estes com as promessas de sempre.

Portugal não tem meios suficientes para combater os fogos, a cordenação das operações entre as várias forças no terreno deixa muito a desejar, ninguem leva a sério a necessidade de se utilizarem verbas com os postos de vigia.
E ano após ano nada muda...e pelos vistos até piora.
E, pior ainda, quando se trata de um recurso natural - a floresta - dos poucos que ainda nos restam e do qual dizem os entendidos, se devia fazer uma prioridade nacional.
Assim, o Presidente da Republica apelou "à resistência" dos portugueses para enfrentarem as chamas.


O Governo decretou o estado de calamidade pública.
Talvez fosse mais correcto e com estes Ministros decretar o estado de " impunidade pública"... já que para o ano , se ainda sobrar uma arvore no interior do país, ninguem duvida do destino que lhe está reservado.

Pois não.

Estes numeros repetem-se quase todo os anos, e todos os anos se ouvem as mesmas almas a dizer as mesmas coisas nos mesmos locais.
A falta de planeamento,a escassez de meios, a dimensão da tragédia a desproporção do combate e o abandono de populações inteiras que lutam pela vida com um balde na mão.



Este fado do fogo remete-nos para o fado do País:
aquela sensação desagradavel de que há matérias onde não vale a pena esperar nada.
O fatalismo da incompetência, do atraso, da incivilidade arrasam o ânimo e a confiança nos nativos.

O Estado não é capaz de impôr regras nem exigir responsabilidades

Vejam o espectaculo destas figuras públicas:


Guilherme Silva do PSD...imigrante oriundo da Ilha da Madeira..." O numero de vitimas foi relativamente restrito perante a dimensão dos incêndios "...querias mais?

Amilcar Theias - Ministro do Ambiente- um paradigma do disparate em política. " Não excluo que tenha havido mão criminosa ou que tenha havido negligência.Só que há muita gente que serviu nas ex-colonias em serviço militar e que inconscientemente levou armas ou granadas para casa".....esta não lembrava o diabo.

Nas declarações do Ministro, não se encontra nada: uma orientação, uma ideia, um dado consistente ou mesmo uma frase que faça sentido.
O que andará a fazer esta alma no Ministério que lhe coube em sorte?



Toda a gente parece ter acordado agora para o facto de 50 por cento dos postos de vigia florestais estarem desactivados, por falta de verba, ou para o estado calamitoso de falta de limpeza das matas, caminhos e asseiros florestais, responsável pela impossibilidade de controlar a maioria dos fogos.
Bem prega o Presidente da Republica...clamar para que a prevensão dos fogos seja uma " causa nacional "... que para o ano - e visto que as mesmas causas provocam os mesmos efeitos - a falta de verba será de novo responsável por arder o que ainda há para arder.

Isto levaria a pensar se não teria sido melhor ter-mos eleito o candidato a PR o filósofo Manuel João Gomes, que incluia no seu programa eleitoral um capitulo específico para vigiar a floresta que era...e é de citar:
" colocar uma puta atrás de cada pinheiro "




NINGUEM TEM AUTORIDADE MORAL PARA FALAR....

Orlando Alves ( Comandante dos Bombeiros de Salto) não poupa os politicos e aponta o dedo aos interesses escondidos atràs das labaredas e ao desinteresse dos que fugiram para os centros urbanos....criados e incentivados pelas vaidades dos PRESIDENTES DE CÂMARA.

Uma das falhas prende-se com a ignorância do passado nacional:
- Portugal já não tem agricultura e ainda não assumiu a sua vocação florestal.
- Somos um país de florestas e não florestal, onde ninguem assume a vontade de exploração séria da floresta.
- O país perde terreno porque não se faz prevenção. A prevensão séria é feita apenas pelas empresas de celulose.
- Os Autarcas nunca fizeram nada pelas suas Florestas.
- pelas responsabilidades - a tendência portuguesa é para a mendicidade- em que o cidadão se habituou a estender a mão sempre que uma desgraça lhe bate à porta....esperando que o Estado lhe resolva os problemas ...e o Estado estende a mão e vive da mendicidade da União Europeia.

Este jogo do empurra impede a acção e a prevenção necessárias para roubar terreno ao fogo.

É um problema de mentalidades....e de mendicidade.

SOMOS UM PAÍS DE PEDINTES



Não havia adubos....logo estrumes.
Rebanhos andavam nos montes o dia inteiro....logo pouco crescimento de matos.
Não havia electricidade....logo matos e lenhas eram necessários para o aquecimento...e preparar os alimentos.

As populações como eram residentes e não tinham as solicitações das grandes cidades nem das vilas....tinham tempo...nos períodos pós colheitas dos produtos agrícolas que ....com as vindimas em meados de Outubro....tinham o seu tempo ocupado até Março.....com a recolha de matos e lenhas..que iam limpando as suas parcelas.

Tinham as suas terras amanhadas...logo todas limpinhas.


Quem deslocou estas populações para as cidades e para a emigração?

Quem introduziu os adubos em substituição dos estrumes dos animais?
Quem introduziu a electricidade e o gas em substituição das lenhas para aquecimento?
Quem começou a importar e a comercilizar carnes várias em substuição do..porquito das galinhas e dos coelhos criados nas capoeiras?
Quem acabou com a fiscalização pedonal da GNR atraves das aldeias?
Quem acabou com os guarda rios?
Quem criou o rendimento mínimo garantido?...que dá mais dinheiro do que andar a roçar matos.


FOI O PROGRESSO

Aqui é que a culpa é de quem nos governa ......

Com a onda do dito progresso e com a serenidade do nosso humilde povo do interior nunca houve vontade política pelos responsáveis....para ver para onde empurraram estas gentes que teimam em viver nas aldeias do interior.

Alem dos governantes dos vários ministérios....tambem os deputados da Nação ...nunca se preocuparam. Se há alguns " aldeões...estes deputados até têm vergonha de dizer que nasceram ou viveram nas aldeias...ou escondem ...os seus antepassados"

Aqui ainda louvo a actuação de alguns Presidentes de Câmaras ( aqueles que lá nasceram e viveram...e não os transferidos)....que tem no sentir e na vivência o conhecimento das realidades do seu território.
...não os podemos lá deixar é andar muito tempo....se não ...é o que sabemos...



Este é o momento de actuar.
A situação de calamidade que se vive no nosso Pa&icute;s com os incêndios florestais deve-se à incuria, incompetência e desleixo a que s nossas matas têm sido votadas nas últimas décadas.
Uma palavra de apreço para o esforço dos bombeiros.
&Ecute; altura para se pensar no Portugal rural, Portugal este há muito votado ao abandono e à desertificação quer dos solos quer das populações.

Se se considera que é s&ocute; o problema da limpeza da floresta....então pode-se dizer que há muito que a floresta foi entregue a si própria.


Qual solidariedade.....?

A ajuda na recontrução das habitações dos espoliados pelo fogo....que não se lembrem as autarquias de levar aquelas pessoas para os centros urbanos e metê-los em gaiolas.
Já morreu muito gente...e h´ outras pessoas que ficaram já mortos por dentro.....não os enterrem nas vilas ou nas cidades.
Esta gente humilde e com dignidade não vai querer que lhes reconstruam " Aldeias da Luz"....não vai querer que lhe entreguem esmolas.
Ajudem-nos...e não lhes entreguem esmolas.
Esta gente tem mais dignidade que os citadinos....que se meteram em barracas vindo dos meios rurais e depois exigem uma habitação.
Ou como os ciganos e os negros...que pregam fogo nas suas barracas e depois aparecem nas televisões com crianças ao colo a exigir uma casinha pros filhinhos.....

Não os comparem....aos do rendimento mínimo nacional...não lhes entreguem esmolas.
Eles não querem...nem se querem comparar a quem não pretende trabalhar....no mundo rural.

Estas gentes idosas e rurais têm direito a viver os seus ultimos dias....em paz....no local que os viu nascer e sempre sonharam ali passar os seus últimos dias de vida.
Senhores Autarcas...não pensem deportar estas gentes para os meios urbanos.
Se pretendem criar habitações sociais....criem-nas nas aldeias com condições dignas e inseridas no meio e na vivência dessas populações.

Reajustem os PDMs de modo a criar espaços para novas construções e pra revitalizar os meios rurais.

Aqui há que revêr a política..entregue ao Ministério da Agricultura que interfere nos PDMs.....em que por satelite delimita a expansão das aldeias e lugarejos habitados. Enfim, enfiam-lhes a floresta.....por dentro das aldeias.

Que reivindações têm feito os nossos autarcas...quanto a esta prepotência?.....se calhar são as contrapartidas....para se ocuparem solos agrícolas e florestais junto às vilas e cidades....a favor do Progresso e das vaidades do "cacique" Presidente da Autarquia.

Ainda havemos de ver a Serra de Sintra arder mais vezes....e depois ser inevitável..ocuparem-se os solos com...construção.




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