domingo, setembro 28, 2003

Fogos em arbustivos e silvopastorícia ........

in Expresso



Imaginemos que umas dezenas de pessoas percorrem uma vasta extensão de pinhal, num dia com temperaturas da ordem dos 40oC, levando consigo isqueiros. Haverá, por isso, incêndios?

Não, é a resposta. Mas se uma dessas pessoas accionar o isqueiro para inflamar material vegetal seco, então ocorrerá um fogo, que se transmitirá de arbusto em arbusto, de árvore em árvore.
Os pinheiros não serão os seus causadores, mas as suas vítimas. E o mesmo aconteceria, como tem acontecido, se em vez deles houvesse carvalhos, sobreiros, oliveiras, etc.

É de salientar que, ao longo dos anos, nos chamados fogos florestais, o que se tem verificado é que em grande parte da área ardida, por vezes em mais de metade, não há povoamento florestal e, portanto, não há pinheiros bravos.

A propósito deste sentimento antipinhal bravo, ocorrem duas questões.

A primeira refere-se ao pinhal de Leiria, que começou a ser semeado no princípio do século XIV. Centenas de anos depois, durante os quais terão ocorrido trovoadas secas e dias e dias de temperaturas elevadas, ele perdura, apesar de só recentemente se dispor de aviões e helicópteros para combater os incêndios que os pinheiros teriam suscitado.

A segunda consiste no facto de se ter formado, no centro do País, a maior mancha contínua de pinhal da Europa, o que levou séculos. Como foi possível esta expansão, sem que os fogos a eliminassem?

Isto mostra que os pinheiros não são, por si só, geradores de incêndios.

É espantoso que, no muito que se tem dito e escrito, se tenha menosprezado o que bastantes comandantes de bombeiros, a actuar nos locais a arder, disseram: o fogo apresenta todas as características de ter sido posto, pois irrompeu em vários pontos, com pequenos intervalos de tempo.

Impõe acabar com os fogos postos e que é fundamental que a Judiciária comece a investigar a fundo os fogos florestais.

A verdadeira prevenção consiste em evitar que o incêndio surja. Perante o que se acaba de expor, uma medida preventiva muito importante consiste em fazer, antes de cada Verão, uma intensa campanha de persuasão e de dissuasão.

De persuasão, para que as pessoas tenham consciência dos prejuízos materiais e das mortes que ocasionam com fogos que provoquem, quer deliberadamente quer por imprudência e incúria.

De dissuasão, informando que a acção policial será eficaz e implacável e que a prisão será o destino dos incendiários.

Mas, para que a dissuasão funcione, é indispensável que os legisladores se preocupem mais com os danos financeiros e de vidas humanas e, em conformidade, estabeleçam penas severas, que afastem os criminosos, durante bastantes anos, do seu teatro de operações – a floresta.

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