quarta-feira, setembro 03, 2003

Indígenas, Nativos, Assimilados e Civilizados

Ate hoje...claro.......


O princípio da assimilação, ou integração, enquanto princípio ideológico, perpassou por toda a política portuguesa, desde os tempos do liberalismo.

A especificidade da ruralidade contemporânea não resulta somente do facto de afirmar sociedades que se julgam superiores, mas do facto dessas sociedades justificarem a sua superioridade na ciência e, particularmente, nas ciências sociais. A situação da ruralidade poiarense não pode, por isso mesmo, ser encarada apenas como um modelo de gestão política, económica e social, correspondente a uma determinada fase da evolução das economias e políticas deste país. Ela deverá ser perspectivada, também, na sua dialéctica de permuta de dados culturais em que o seu carácter agonístico deriva da natureza impositiva e assimétrica das culturas em confronto. Daí que a situação ruralidade poiarense, como realidade objectiva, constitua o fecho do ciclo da percepção da alteridade iniciada no século XVI: num extremo — e após a fase da constatação, levantamento e inventariação do exótico — o modelo iluminista do «bom selvagem», domínio de uma alteridade homogénea e auto-suficiente, objecto de um «olhar distanciado»; no outro extremo desse ciclo, a situação rural, com toda a sua carga de intervenção, reduzindo ou amplificando os factores da alteridade, consoante as suas necessidades ideológicas .Tal alteridade é sancionada ideologicamente pela segmentação básica da sociedade rural e rustica entre «civilizados» e «indígenas», isto é, tal discriminação identifica a coesão do sistema rural através da redução dos autóctones à categoria de uma criação da natureza e de um objecto:
«Toda a gente sentiu o que há de depreciativo na palavra indígena que é utilizada para designar os nativos das nossas aldeias.Com efeito, mesmo nos casos de não aplicabilidade da política rural de indirect rule, as diferentes conjunturas implementaram aqui sociedades dualistas, umas dotadas de uma parte urbana, usufruída por «brancos» e «assimilados», e outras dotadas de uma parte de «mato», habitadas por «não civilizados» e «matarroanos» , onde as regras políticas da parte urbana não se aplicavam . Tornar-se-ia possível, portanto, pensar numa Antropologia de Poiares, sobretudo nas suas implicações simbólicas.

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