sexta-feira, setembro 05, 2003

O Populismo, a Cultura e a Democracia .......

O Populismo, na sua forma mais caricatural, aparece associado às manifestações populares de grande aparato a que já nos habituamos. O que caracteriza o Populismo é uma espécie de má-formação de raiz rural que se desvirtuou com a passagem do tempo. E é a passagem do tempo que acaba por fazer com que o Populismo deixe de ser uma caricatura distante e que irrompa no seio da nossa população. Embora possamos encontrar para o fenómeno antecedentes claros com 'sede', por exemplo, na génese do fascismo italiano ou na versão mais hard do realismo socialista, actualmente as suas manifestações mais óbvias ocorrem tanto com o aparecimento e o desenvolvimento dos partidos de extrema-direita, como ao longo do espectro partidário dos conservadores e até dos sociais-democratas.

O Populismo já não é apenas um sintoma de pobreza, de lumpenproletarismo, de desemprego, de crise de autoridade: mais do que mero reflexo de um sistema, transformou-se agora numa ideologia com os instrumentos próprios e estratégias de disseminação.

O Populismo é hoje uma forma de fascismo light, que utiliza como instrumentos fundamentais a imprensa regional com os seus jornais e radios, as TVs generalistas, uma comunicação reduzida ao slogan e uma relação e um discurso emotivo com os cidadãos.

O Populismo renuncia a todos os instrumentos democráticos que medeiem as relações entre as regras e os cidadãos e desacredita as concepções dos princípios democráticos, afastando-se deles. É por este motivo que a relação da cultura com a democracia deve ser aprofundada. Não nos referimos só à necessidade de rebater o maniqueísmo das propostas culturais do populismo e dos seus partidos políticos - i.e., à necessidade de combater a defesa de um sentimento regional baseado em valores culturais como a gastronomia da chanfana, os moinhos de vento e as suas mos, os livros do passado e o folclore - porque esta defesa assenta na perda da memória colectiva, uma das maiores fragilidades da democracia actual. Só beneficiando desta perda, e do que ela implica na avaliação do passado e da história, pode o Populismo anunciar tais valores, forjados, geralmente, em ambientes emocionalmente primários onde ecoam slogans não argumentativos.

A relação da cultura com a democracia assenta num outro aspecto fulcral: o da constatação de que a aprendizagem procede de uma discussão que respeita necessariamente a autoridade dos argumentos discordantes.

Esta atitude cultural, que é um acto fundamental da democracia, é em tudo contrária à ideia populista de que basta ser maioria, ou pertencer à maioria, para ter razão.


Finalmente um aspecto determinante na relação da cultura com a democracia: a semântica ou o 'bom uso das palavras'. O populismo, recorrendo ao mínimo de sintaxe e funcionando por slogans directos, pretende atingir com impacte imediato o seu receptor, que está disposto a uma solução de crença.


O melhor será ir à bruxa....ehehehheheh





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