http://dn.sapo.pt/2005/09/27/opiniao/afinal_ainda_virgens.html
Estado do Sítiode antónio ribeiro ferreira
Este sítio, muito mal frequentado, falido, a perder terreno face aos seus parceiros europeus, ainda tem algumas qualidades, para além do sol e das praias, que o tornam inigualável. Políticos, empresários, sindicalistas, juízes, polícias, professores, comentadores e jornalistas têm o mérito de fazer rir à gargalhada o bom povo do sítio com as suas histórias mirabolantes, os seus dramas, as suas indignações, os seus discursos de faz-de-conta, as suas tropelias, as suas mentiras, as suas promessas de amanhãs radiosos, o seu amor à democracia, à verdade e, claro, a sua enorme fé na justiça.
Não vale a pena gastar muito mais tempo com o hilariante caso da senhora Fátima Felgueiras. Importa sim registar a falsidade e a hipocrisia dos que andam por esta terra mal frequentada de dedo em riste e voz grossa a bramar contra os senhores e senhoras que deixaram a candidata autárquica em liberdade.
Falam em crise da justiça, na perigosa promiscuidade entre a política e o poder judicial e chegam ao ponto de falar na credibilidade do regime e do perigo que a democracia corre com esta e outras situações que marcam decididamente a campanha eleitoral em curso. Alguns, mais excitados, não têm dúvidas em apontar o dedo aos cidadãos, ameaçando-os com o Inferno se derem a vitória em 9 de Outubro aos senhores Isaltino, Avelino, e Valentim e à senhora Fátima.
Como se vê, o sítio foi inundado por uma imensa onda de moralidade e indignação a partir do momento em que a senhora de Felgueiras foi posta em liberdade no dia em que chegou do Brasil. Pura hipocrisia.
Neste sítio muito mal frequentado, muito mesmo, todos sabem o que se passa com o financiamento dos partidos e das campanhas eleitorais, sejam legislativas, presidenciais ou locais.
Os muitos milhões de euros que andam a ser esbanjados por aldeias, vilas e cidades deste sítio por milhares de candidatos independentes e partidários não caem, de certeza absoluta, do céu.
Não caem agora como nunca caíram. E hoje como ontem ninguém, mas mesmo ninguém, fiscaliza ou quer saber a sua origem e o seu destino final. É um mundo obscuro, pantanoso e corrupto que fica impune à lei e aos comentários indignados dos actores e comentadores da política nacional.
A democracia é uma caricatura, o regime está falido, moral e economicamente, a justiça não funciona e a corrupção atingiu uma tal dimensão que o Banco Mundial não tem dúvidas em afirmar que o sítio estaria ao nível da Finlândia se alguém tivesse coragem de combater a corrupção das autarquias.
As carpideiras do regime fingem indignar-se com as Fátimas do sítio.
E fazem-se de virgens inocentes quando se fala de corrupção.
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