segunda-feira, agosto 01, 2005

A política deixou de ser a já de si cínica arte do possível, para ser a arte do engano.



Os mais recentes actos eleitorais em Portugal estão repletos de provas disso: promessas não cumpridas, garantias desmentidas. A demagogia instalou-se e faz parte dos métodos de acção de todos os quadrantes políticos.

É cada vez mais evidente que um dos factores mais imobilistas e com maiores responsabilidades na incapacidade de funcionamento do sistema vem da ausência de uma reforma profunda na Administração Pública.
A função pública vale votos demais para poder ser tocada. A incapacidade em a reformar está directamente ligada à incapacidade em governar o país e em provocar mudanças estruturais.
Enquanto não se mudar a administração pública a despesa dificilmente diminuirá e o país não conseguirá progredir. Este ano teremos eleições autárquicas, o que é um outro mundo acrescido de clientelismo, o da administração local e todos os seus anexos.
Os autarcas gostam de se considerar os alicerces do regime, mas um estudo cuidado à realidade da gestão autárquica a nível nacional mostraria muito desperdício, muita obra feita para as feiras de vaidades pessoais dos presidentes de câmaras, provavelmente pouca obra social e demasiadas rotundas e construção civil. Os autarcas ? salvo raras e honrosas excepções - transformaram-se em loteadores, são sobretudo o apoio estratégico de construtores civis e especuladores imobiliários.
O retrato desenfreado da nova construção no país é prova disso mesmo. Confunde-se desenvolvimento com construção ? é a expressão da política do betão a nível autárquico. Em 35 anos o número de habitações em Portugal mais que duplicou. Teoricamente temos uma casa para cada duas pessoas e preferimos demolir e construir, a recuperar e conservar. O resultado está à vista na paisagem e não é bonito de se ver.
Nas autarquias os serviços prestados aos cidadãos são chocantemente maus e caros.
A burocracia é maior que na administração central, a ineficácia é gigantesca, o tráfico de influências e as alianças espúrias são correntes e as suspeitas de corrupção persistem. Não acredito na bondade dos políticos nem dos aspirantes a políticos. As obras públicas e as decisões urbanísticas são em grande parte o pagamento das campanhas eleitorais.

E, agora digam-me: com um quadro destes acham que os partidos e o sistema político, tal como hoje existem, podem alterar alguma coisa?
Cada vez mais a intervenção cívica apenas faz sentido fora dos partidos ? e frequentemente contra eles.
E por este andar a participação cívica faz mais sentido fora do quadro das eleições.
Vamos a eles.

Nenhum comentário: