quarta-feira, julho 13, 2005

Alívio em Penacova




Depois de mais de 48 horas de aflição e duas noites sem dormir, as localidades afectadas pelo incêndio que deflagrou domingo em Vale da Formiga, Penacova, regressaram ontem a um clima de normalidade relativa, interrompida, a espaços, por diversos reacendimentos

Muitos moradores de várias localidades do concelho de Penacova só ontem conseguiram dormir pela primeira vez em cerca de dois dias, depois de mais de 48 horas desde que deflagrou o incêndio em Vale da Formiga. Contudo, apesar de alguma acalmia, os reacendimentos foram ontem uma constante em plena Serra do Buçaco, fazendo regressar os temores dos dois dias anteriores.
A localidade de Chã, ameaçada pelas chamas na segunda-feira à noite, altura em que chegou a ser ordenada a evacuação, voltou ontem a sofrer o ataque do fogo, combatido por extenuados bombeiros de corporações das mais diversas proveniências, com o apoio de meios aéreos.
Não muito longe, em Carvalhal de Mançores e Mont?Alto, são visíveis as marcas da des- truição, com hectares de floresta ardida até onde a vista alcança, tendo apenas sobrado uma pequena capela onde muita gente pratica a sua devoção.
A mesma situação verifica-se numa extensa área que vai desde a localidade de Palmazes, perto da Espinheira, até quase à Raiva, existindo muito poucas manchas que ficaram incólumes.
Na noite de domingo, o fogo atacou a encosta junto ao IP3 tendo obrigado ao seu corte durante toda a madrugada, ficando a situação controlada pela manhã, com a chegada dos meios aéreos.
Seria sol de pouca dura, uma vez que uma das frentes avançou na direcção de Penacova, queimando a zona do Mont?Alto e Selgã, chegando mesmo a ameaçar os arvoredos vizinho da fábrica das Águas de Penacova e obrigando à evacuação do parque de campismo municipal e novo corte da via rápida, com gigantes engarrafamentos na estrada nacional.
Com o cair da noite, a encosta junto ao IP3 voltou a ser preocupação. O vento empurrou chamas com várias dezenas de metros de altura, que consumiram a pouca floresta que restava nesta zona. Valeu a existência de aceiros e a pertinácia dos bombeiros, que impediram que o fogo ultrapassasse a via rápida, colocando em perigo as povoações de Casalito e Casal de Santo Amaro.
Nas bocas dos populares e de muitos bombeiros, este grande incêndio só pode ter sido provocado por mão criminosa, especialmente pela ocorrência simultânea de outros focos em locais onde seria impossível haver projecção de detritos incandescente.
Um dos exemplos ocorreu na madrugada de ontem, por volta das 0h00. Numa altura em que a frente sul do principal fogo ardia com intensidade, começou a arder numa zona distante, por obra e graça de Nossa Senhora, logo após terem sido avistados faróis de automóvel. Os bombeiros conseguiram apagar este foco, fizeram rescaldo, mas ontem voltou a verificar-se um reacendimento neste local.
Ao final da tarde, o grande incêndio de que Penacova tinha escapado durante vários anos, ainda ardia em vários locais onde as chamas reapareceram depois de terem sido apagadas.
Para complicar, as preocupações dos bombeiros tiveram que se virar para a margem esquerda do Mondego, onde surgiu um novo foco de incêndio, perto da Ronqueira, que se dirigia para o concelho de Poiares.
No incêndio de Penacova arderam cerca de mil hectares, tendo o combate sido feito por centenas de bombeiros e mais de uma dezena de meios aéreos, desde helicópteros a aviões ligeiros e pesados.

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