MANUEL MIGUEL - Nunca Poiares teve um currículo como o meu
Se calhar a tal seita que para aí anda ha 31 anos não merece. É altura de retirar Poiares dos caminhos do analfabetismo.
Há quatro décadas fora do concelho, é um gestor experiente para um desafio difícil.
Que vantagens tem Poiares ao elegê?lo?
Sem falsas modéstias, julgo que Poiares nunca teve um currículo como o meu. Agora, ou os poiarenses entendem isto e é uma oportunidade ímpar, ou então alguma coisa está mal. Julgo que Poiares carece de uma gestão correcta, serena, clara.
A câmara é como uma empresa. Portanto, tem de ter objectivos. E tem de ter um plano estratégico. Ora, ao que sei, Poiares até tem um documento destes, que comprou há cerca de três anos à Universidade de Aveiro e cujas linhas fundamentais eu assino, para aí a 80 ou 90 por cento.
O problema é que, até hoje, foi feito zero. Poiares tem, hoje, uma zona industrial sem qualquer saída. Não tem infra?estruturas. Em suma, Poiares carece de uma acção de gestão. Ora, a minha vida profissional foi sempre ligada à gestão: fui director de um banco, administrador da Transtejo, vice?presidente do Instituto de Desporto, administrador da Guérin, administrador da Santa Casa da Misericórdia...
Quando saiu de Poiares?
Em 1963 fui para a tropa. Inscrevi?me na Força Aérea, onde estava quando acabei o 7.º ano. Entrei para a faculdade e, quando acabei a tropa, ainda sem acabar o curso, entrei para o Banco Português do Atlântico. Depois fui para redactor da Emissora Nacional ? se tivesse continuado, hoje seria jornalista. Aliás, em 1985, trabalhava então no gabinete do dr. Almeida Santos, fui nomeado para o Conselho Geral da RDP, mas lamentavelmente o então secretário de Estado dr. Marques Mendes não me deu posse...
Mas os meus pais estavam em Poiares e sempre mantive relação com o concelho. Se cá tivesse ficado, talvez andasse a cavar terra ou fosse presidente da camara como fez o Jaime Soares.E, nestes anos todos, testemunhei a sapatada que Jaime Soares deu em Poiares.Mal dele e dos poiarenses se em 31 anos e depois de se ter enterrado tanto dinheiro, não se tivessem feito algumas obras. O problema é que foi sempre sem qualquer plano e, para aí há 10 anos, estagnou. Por isso, faz o que lhe vem à cabeça, desde uma cruz no cimo da vila, onde gastou mais de 100 mil contos, a umas rotundas em que vai gastar alguns 200 mil contos... Mas, depois, não tem passeios e não tem uma ETAR nem uma rede de captação e distribuição de aguas em condições, onde toda a tubaria está já apodrecida. Está?se, aliás, a cometer um crime ecológico, pois o que há é uma ribeira que é um autêntico esgoto a céu aberto, para onde escoam os óleos e todos os detritos que são retirados das fossas. Quem paga é Coimbra e as populações junto ao Rio Mondego, até à Figueira, que estão a levar com toda esta poluição.
Por que foi o PS buscá?lo?
Acontece que, nos últimos anos, quando vinha a Poiares e costumava almoçar no restaurante ?O Filipe?, o proprietário sempre me foi dizendo que eu é que era a pessoa indicada para ser presidente da câmara, pois o Paulo Penedos já não queria saber disto para nada e não ligava nada à Concelhia. Para aí em Setembro/Outubro, resolvi eu dizer ao Filipe que estava disposto a ponderar a hipótese, mas sempre articulado com a Concelhia de Poiares e também com a Distrital do PS. Ora, na altura, constava?me que o Paulo Penedos tinha sido imposto e eu não queria que me acontecesse o mesmo.
O tempo passou e, aqui há meses, houve finalmente uma reunião, em Peniche, entre mim e dois elementos da Concelhia. Ao princípio houve ali um pequeno desaguisado, mas acabámos por entender?nos.
Sente?se condenado a perder?
O histórico dos resultados do PS não pode ser olhado como um fatalismo. É que tudo depende dos candidatos. Há oito anos, com o senhor Marino Silva, quer o seu estilo quer a pressão de quem está no poder não deram hipóteses. Depois, Paulo Penedos parece que foi um acidente de percurso. Foi até um pouco imposto de fora. Neste momento, tenho como objectivo reorganizar o partido, mas sobretudo ganhar o concelho. Não venho à procura de poder pelo poder, muito menos servir?me. Depois, pela minha formação e experiência em gestão, não vejo o que possa ser considerado ponto fraco. Não sou corrupto, sou cumpridor, sou responsável, não sou vaidoso, não sou oportunista... por isso não sou comparavel aos dos 31 anos de poder.O efeito de matilha é aterrador e o terrorismo não é so dos arabes.
Acusam?no de se ter reformado em alta...
O que tenho é tudo legal. Não sou reformado da câmara, como o actual presidente, que recebe também o vencimento de deputado. No meu caso, sei que já há alguns rumores a correrem, mas eu esclareço: no ano passado, quando saí de uma empresa, fui apresentar?me à Transtejo, onde era director de pessoal e de planeamento. Só que, nos dois anos e pico em que estive fora tinha já sido nomeado outra pessoa. Aí eu disse que não havia problema, pois eu tinha 42 anos de descontos para a Segurança Social, tenho 60 de idade, pelo que estou em condições de reforma. E propus a negociação. A única coisa que pedi foi que o meu vencimento me desse para manter o nível de vida. E acabei por chegar a acordo por valores até muito baixos.
Se ganhar, qual será a sua primeira medida?
Logo nos primeiros dias conto fazer a actualização do plano estratégico para o concelho.
Terei de chegar à Universidade de Aveiro e pedir que o trabalho seja revisto, sobretudo através do alargamento do número de pessoas entrevistadas. Outra batalha urgente é a do ambiente. Veja que há esgotos a céu aberto, por exemplo ali a norte da zona industrial, numa sucata que tem tentado tudo, mas tem sido impedida pela câmara... Uma coisa que não quero é tutelar tudo e todos. Enquanto uns tutelam os bombeiros, a ADIP, não sei quê, eu quero apoiar e só exijo que os subsídios se justifiquem e sejam justificados. Com responsabilização, pois entendo que um dos grandes males que afecta o país e também Poiares é o da impunidade.
Tem tido problemas em constituir listas?
Em Poiares, outro problema sério é o do medo instalado. Eu tenho tido pessoas do PSD que me telefonam a dizer que me apoiam mas que não dão a cara e chegam a dizer que têm medo. Chegam?me informações que até as licenças de obras são retardadas. Mas aqui há gente boa.
A Estrada da Beira ainda é via estruturante para Poiares?
Ainda. E está melhor, mas continua mal. Agora a grande preocupação são os semáforos. Mas tem de ser encarada outra solução. Sei que um secretário de Estado do governo anterior veio cá anunciar uma ligação ao IP3, saindo a norte da vila. Mas a ligação a Coimbra é fundamental. Por isso e porque sublinho que Poiares tem de entender?se em tudo com os concelhos vizinhos. Ora, se a Lousã vai ter uma variante nova até à Ponte Velha, por que não equacionar uma ligação directa, pela serra e com entrada em túnel directamente em Coimbra? Será que já não ha engenheiros neste país?
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