domingo, maio 16, 2004

Santa Clara-a-Velha reabre hoje portas


Depois quatro séculos de abandono, o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha prepara-se para voltar a mostrar à cidade as razões porque é classificado um dos mais importantes monumentos nacionais. A investigação do IPPAR foi revelando surpresas após surpresas, agora parcialmente à vista de todos e em ambiente seco, graças à ?cortina? construída em torno do mosteiro, que impede a entrada das águas do Mondego

Após vários anos de intervenção, o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha reabre as portas, com o problema das inundações provocadas pelo Rio Mondego resolvido. Para hoje, às 17h30, está marcada abertura oficial, que deverá contar com as presenças do primeiro-ministro Durão Barroso e do ministro da Cultura, Pedro Roseta, para, amanhã, o claustro e a igreja começarem a receber os visitantes, ainda que com restrições.
Não se pense, no entanto, que a missão do Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR) terminou no mosteiro, construído no século XIV com o empenho da Rainha Santa Isabel. Os trabalhos de investigação continuam no terreno, o que não impede a abertura condicionada do monumento municipal. Para já, as visitas, cujos grupos não podem ultrapassar as 15 pessoas, obrigam a marcação prévia e uso de capacete de protecção.
Considerada uma das mais importantes no quadro da arqueologia medieval e de conservação e revitalização monumental realizada em Portugal, a intervenção no mosteiro iniciou-se nas décadas de 30 e 40 de 1900, com um primeiro trabalho por parte da Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais. Recorde-se que Santa Clara-a-Velha ficou votado ao abandono durante largos anos, com o abandono das clarissas, no século XVII, para um novo mosteiro.
Após um longo interregno, em 1994, a descoberta de importantes vestígios arqueológicos impulsionou uma operação, iniciada em Fevereiro do ano seguinte, com vista à recolha, registo e estudo do espólio existente no interior e exterior da igreja.

Ainda há muito
por desvendar

Com os primeiros trabalhos desenvolvidos no âmbito arquitectónico, rapidamente os técnicos perceberam que a plasticidade dos solos iria dificultar a missão. A opção foi o rebaixamento a nível freático, com bombagens permanentes.
Nova surpresa em finais de Novembro de 1995, com descoberta de estruturas num estado de conservação notável, alterou o acompanhamento da investigação, sempre condicionada ao ambiente permanentemente húmido provocado pelas águas da Mondego. A estratégica obrigou a um alargamento da equipa, que passou a ser composta por especialistas de áreas como História de Arte, Antropologia, Arquitectura, Botânica, Geologia e Engenharia.
Em Maio 1998, o ministro da Cultura anunciava que o futuro do conjunto patrimonial de Santa Clara-a-Velha teria de ser ?seco?. Na sequência dessa decisão e de complexos estudos técnicos, iniciou-se a construção de uma parede moldada autoendurecedora, ao longo do perímetro do monumento, prolongada por uma cortina de injecções nas formações rochosas e por um sistema de drenagem e de bombagem.
Hoje, o trabalho de investigação continua. O processo de descoberta, confinado ainda à escavação no interior da igreja e do Claustro Maior, está longe de se esgotar. A intervenção de campo passa pela busca de respostas para um conjunto de interrogações que ainda permanecem. Numa altura em que se encontram em elaboração os levantamentos de pormenor, os elementos recolhidos e organizados em estaleiro aguardam um programa de restauro.
Na cerimónia de abertura, logo à tarde, além do primeiro-ministro e do ministro da Cultura estarão também presentes o presidente do Instituto Português do Património Arquitectónico, João Belo Rodeia, o director regional do IPPAR, José Maria Henriques, e o coordenador de projecto do Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, Artur Côrte-Real.



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